Descrição

Um jovem, criado entre o rigor do pai e os mimos da mãe e da irmã – que usavam dos mais engenhosos artifícios para levar uma vida plena de prazeres – vê seus dias de conforto se diluírem pela fúria, arrebatadora e inevitável, do provedor da casa. É esse o ponto de partida de um delicioso romance de viagem, cujo protagonista, o jovem Stavro, passará a buscar com a mesma paixão a irmã Kyra, de quem foi brutalmente separado, e a própria sobrevivência.

Vivendo de pequenos empregos em uma região em constante transformação – a dos Bálcãs na passagem do século XIX para o XX –, Stavro, encarnação do vagabundo errante, terá a vida narrada por Adrien Zograffi, alter ego do escritor romeno de expressão francesa Panaït Istrati (1884-1935), cuja narrativa minuciosa sobre as personagens de vários países e regiões tornou-se um fenômeno literário, conquistando leitores de todo o mundo.

A história da publicação de Kyra Kyralina, em 1923, traz em si a marca da violência poética característica da obra de Panaït Istrati. Dois anos antes, tuberculoso e sem ter conseguido levar a público seus escritos, ele havia tentado suicídio em Nice, na França, cortando a própria garganta. Entre seus pertences foi encontrada uma carta dirigida ao francês Romain Rolland, prêmio Nobel de Literatura de 1915. A missiva chegou até o destinatário, que se aproximou do romeno, fascinado por sua vida de aventura e por sua capacidade de observação dos homens das ruas e dos campos, na qual encontrou “o tumulto do gênio”. Para Rolland, Istrati era um “Górki dos Bálcãs”, um “contador de histórias nato”. O francês o incentiva a publicar parte de suas aventuras extraordinárias e assim nasce Kyra Kyralina, o primeiro da série de romances protagonizada por seu alter-ego, o errante Adrien Zograffi.

Istrati visita em suas histórias o caldeirão étnico dos últimos anos do Império Turco Otomano, tornando-se um observador raro e minucioso da transição do século XIX para o XX nas bordas da Europa. Entre outros aspectos incomuns para a época de Kyra Kyralina está também o fato de ser protagonizado por um personagem homossexual. Nele o alter ego Zograffi é o condutor da narrativa, mas a história é a de um feirante sem lar, Stavro, “vigarista honesto” que vive desde a infância saltando de situação em situação, ora encontrando protetores e aliados, ora sendo explorado, e sempre à procura da irmã, Kyra, provavelmente aliciada como cortesã em algum lugar dos Bálcãs. Os personagens – que vão da mãe libertina e do pai brutal até vagabundos e senhores amorais – falam grego, romeno, armênio e turco, e as deambulações chegam até a Ásia Menor. À moda dos contos orientais, a narrativa se alterna em episódios interligados.

Com sua escrita concisa e eloquente, assim como seus aspectos aparentemente exóticos, Panaït Istrati virou fenômeno literário na Europa, com ecos pelo resto do mundo, incluindo o Brasil, onde foi lido em francês, como revela o posfácio do jornalista Fábio Bonillo. Por aqui, conquistou leitores como Sérgio Buarque de Holanda, Cecília Meireles, Mário de Andrade e Clarice Lispector. Sobre Kyra Kyralina, Sérgio Buarque de Holanda escreveu: “A leitura desse livro nos transporta a um ambiente e a um estado de alma onde todas as coisas se refletem em tons imaginários e cujo colorido nos traz à memória as histórias maravilhosas das Mil e uma noites”. Adalgisa Nery elegeu o romance um dos vinte livros que ela salvaria de um dilúvio.

Israti encarnou o maltrapilho errante, o haiduc (o típico marginalizado da Romênia), figura na qual se inscreve a ideia do “homem que não adere a nada”, numa luta diária pela prevalência de certos valores morais. No prefácio reproduzido nessa edição, Romain Rolland ressalta em Istrati “a determinação de espírito e (...) uma alegria trágica, a alegria do contador de histórias que liberta a alma oprimida”.

 


 

Sobre a edição

O projeto gráfico desta edição, elaborado pelo Estúdio Margem, lembra uma caderneta de viagem, referindo-se à errância do escritor e de seus personagens. Elementos geométricos marcam as aberturas de capítulos, inspirados em mapas da cartografia otomana, com suas linhas e pontos de fuga. A capa, em tecido vinho e gravação em dourado, retoma as cores das vestimentas das populações balcânicas na época em que se passa o romance. O livro traz um prefácio de Romain Rolland e um posfácio de Fábio Bonillo.

Autor(a)

Panaït Istrati (1884-1935) nasceu em Brǎila, na Romênia, filho de uma lavadeira e um contrabandista grego de tabaco que abandonou a família quando ele ainda não tinha completado um ano. Teve pouca instrução formal, mas lia vorazmente enquanto vivia de trabalhos temporários nas ruas. Saiu de casa aos 12 anos e, adepto do socialismo, se engajou nas reivindicações dos estivadores de sua cidade, organizando uma greve. Seus primeiros escritos publicados foram artigos de teor político em publicações operárias. Em seguida passou anos perambulando pelas regiões do Bálcãs e do norte da África, até conseguir internar-se num sanatório suíço para tratar da tuberculose. A leitura mais marcante nesse período foi a dos dez volumes da saga Jean-Christophe, do pacifista Romain Rolland, que o levou a treinar a escrita em francês, língua que adotaria para seus escritos literários. Mais tarde, viria a traduzir todos os seus livros para o romeno.

Estabelecido como escritor, Istrati foi convidado em 1927 a visitar a União Soviética por ocasião do aniversário de dez anos da revolução bolchevique, o que resultou numa grande decepção diante do regime stalinista. Tornou-se, antes de autores como Arthur Koestler, André Gide e George Orwell, o primeiro intelectual socialista a denunciar em livro os desvios totalitários soviéticos. Embora endossadas por companheiros de militância como Victor Serge, as críticas de Istrati lhe valeram condenações e perseguições do Partido Comunista Francês e dos militantes comunistas romenos, o que contribuiu para o ostracismo em que sua obra mergulhou nas décadas seguintes. Isolado, Istrati sucumbiu à tuberculose num sanatório em Bucareste em 1935.

Ficha Técnica

Informação Adicional

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Dimensão (cm) 12 x 19 x 1,4
Peso (g) 195
Ano de Publicação 2018
Número de Páginas 184
Encadernação e Acabamento Capa dura com meia-casaca em tecido e hot-stamping
ISBN 978-85-69002-35-2
Escritor(a) Panaït Istrati
Tradutor(a) Erika Nogueira
Ensaísta(s) Fábio Bonillo, Romain Rolland
Designer Estúdio Margem
Ilustrador(a)
Idioma Original Francês
tradutor ensaio

Saiu na Imprensa

"Rolland, ganhador do prêmio Nobel de literatura em 1915, ficou impressionado com Istrati, sobre quem mais tarde escreveria: “Esse gênio de contador de histórias é tão irreprimível que, na carta escrita na véspera do suicídio, interrompe duas vezes as queixas desesperadas para narrar duas histórias humorísticas de sua vida passada.” Começaram a se corresponder, e Rolland estimulou Istrati a colocar no papel as histórias que viveu e ouviu. Dois anos depois, Rolland escreveria o prefácio do primeiro livro de Istrati, 'Kyra Kyralina'."
Gustavo Pacheco, Revista Época, 31/12/2018 

"É o imoral que, aos poucos, vai dando lições de moral aos supostos 'homens de bem', assim como a nós, que vamos entendendo que seu sofrimento não somente justifica como até o impulsiona à vida de pequenas e inofensivas desonestidades: 'De tanto passear com a chama por debaixo do nariz, eu acabaria por deixar de temê-la. Quem sabe? O que conhecemos da natureza humana?'"
Noemi Jaffe, Folha de S.Paulo, 18/06/2018

"Kyra Kyralina é uma obra comovente. Está cheia de um vento selvagem que atravessa as eras, e os conselhos deixados em jeito de piscadela de olho pelos anciãos do livro são válidos até hoje. Embora as peripécias vão surgindo a toda a velocidade, há sempre alguém que tem tempo para parar um pouco e soltar uma dica fundamental."
Matilde Campilho, Revista 451, 01/04/2019

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