Descrição
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Mariano Armijo, o protagonista e narrador de Madri 1940 – Memórias de um jovem fascista, é um anti-herói perfeito: delator, ganancioso, carreirista, amoral, talvez psicopata. “Até onde chega essa criatura contraditória e perigosa na sua evolução social e mental é coisa que verá quem ler o livro”, avisa o autor, o premiado espanhol Francisco Umbral (1932-2007), tido como o mais raivoso autor das letras espanholas recentes. O romance, publicado originalmente em 1993 e um dos mais elogiados da vasta bibliografia de Umbral, marca a estreia do autor no Brasil, com tradução de Sérgio Molina.
O enredo desta suposta autobiografia de um fascista, marcado pelo escárnio e pela ironia, começa logo depois da chegada do “generalíssimo” Francisco Franco ao poder ao fim da Guerra Civil espanhola e se estende até 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial. O autor, conhecido por romper com as convenções, os gêneros literários e até as boas maneiras, enreda o leitor pelos subterrâneos de Madri confundindo-o numa mistura de fatos e personalidades reais a eventos e figuras fictícias.
Depois de uma temporada no interior, Mariano Armijo volta para uma Madri ainda não totalmente absorvida pelo franquismo. Sua intenção é fazer carreira literária ou mesmo política, uma vez que venera a utopia fascista do desaparecido líder de extrema direita José Antonio Primo de Rivera, fundador da Falange, cujo lema era “justiça e poesia”. Embora partidário do fascismo, Armijo despreza Franco, por sua submissão à Igreja Católica e por considerá-lo fraco e contemporizador demais em comparação a Adolf Hitler e Benito Mussolini. Armijo é favorável ao higienismo nazista e lamenta que a Espanha não tenha entrado na Segunda Guerra ao lado do Eixo. Mesmo assim, tenta ascender socialmente no cenário da vitória de Franco.
As circunstâncias empurram Armijo para o jornalismo, plataforma ideal para quem se presta anonimamente a ser dedo-duro sem nenhum prurido ético – ao contrário, ele vê qualidade estética na delação. Seus alvos são os republicanos, vencidos na Guerra Civil, a quem ele chama de “vermelhos”, mas a “limpa” inclui também um rival literário ou alguém com quem divide uma de suas conquistas. A trajetória de Armijo passa por círculos intelectuais – em geral “vermelhos” – e relações com várias mulheres, entre elas María Prísca, marquesa da proscrita monarquia espanhola, cocainômana, amante de figurões da política, ou María de la Escolanía, rica, culta e católica, que sofre de tuberculose. Gradativamente, Armijo se cerca de mortos enquanto, além de mulherengo, revela-se necrófilo e pedófilo.
“Esta história do contínuo rebaixamento de um espírito que atinge o último grau de baixeza ao servir-se cientemente dos demais creio tê-la escrito Francisco Umbral como um protesto contra o esquecimento, contra o que chamamos ‘a curta memória dos povos’”, avalia José Saramago, admirador da obra, para quem “esse ninho de escorpiões entrelaçados, mordendo-se uns aos outros, que foi a primeira Espanha franquista, encontrou em Francisco Umbral um analista corajoso e frontal.”
Como o próprio Umbral descreve na introdução, Madri 1940 se desenvolve em três planos: as supostas memórias do jovem falangista, um mapa da repressão dos primeiros anos do franquismo e a crônica de uma vida cultural em processo de desaparecimento. Os porões do regime, que deixaram mais de 110 mil mortos, são o núcleo de um mapeamento da capital espanhola conforme a ditadura vai se aparelhando geograficamente. As nem sempre alegres vivências dos meios intelectuais se manifestam por meio da presença de personagens reais, como o poeta Camilo José Cela e a atriz Sarita Montiel.
SOBRE A EDIÇÃO
A edição traz posfácio da professora francesa Bénédicte de Buron-Brun, especialista na obra de Umbral, e um texto da pesquisadora Valeria de Marco, da Universidade de São Paulo, que apresenta o contexto da Guerra Civil espanhola e do período que sucedeu ao conflito. Encadernado em capa dura, o volume tem projeto de capa de autoria de Danilo de Paulo. Madri 1940 sai pela coleção Ilimitada, com lançamento simultâneo em e-book.
Autor(a)
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Francisco Umbral (1932-2007) foi um escritor prolífico, autor de cerca de oitenta livros, entre ficção e ensaios, e ganhador dos dois principais prêmios de literatura da Espanha, o Príncipe de Astúrias (1996) e o Miguel de Cervantes (2000). Foi um articulista feroz em diversos jornais. Ao longo de sua carreira, passou da esquerda apartidária ao conservadorismo, quando, na década de 2000, assumiu uma temida coluna para o jornal El Mundo.
Nascido em Madri, Umbral cresceu em Valladolid, na província de Castela, filho de mãe solteira. Fez poucos estudos, mas era um leitor voraz. Aos 14 anos, começou a trabalhar como office-boy de um jornal. Anos depois, o escritor Miguel Delibes o indicou para um posto num diário local, iniciando uma carreira jornalística que depois incluiu os jornais El País e Diario 16, além de El Mundo.
Umbral voltou a morar na capital em 1961, aos 29 anos. Em 1966 saiu seu primeiro romance, Travesía de Madrid, no qual já chamava atenção seu estilo barroco e distante do realismo social – era “um esteta até os ossos”, segundo Delibes. Isso não impede que a obra do escritor seja um vívido painel histórico do franquismo e do período democrático que se seguiu.
Uma tragédia marcou seu casamento com a fotógrafa María España: o único filho do casal morreu aos 6 anos de leucemia, o que levou Umbral a escrever Mortal y rosa, uma meditação sobre a morte. Entre as obras principais do autor estão Las ninfas (1976), El día que violé a Alma Mahler (1988) e ¿Y cómo eran las ligas de Madame Bovary? (2003). Quando mantinha a coluna no El Mundo, Umbral se tornou também uma figura midiática. Sua metralhadora giratória atingiu até Camilo José Cela, a quem já tivera como ídolo.
Ficha Técnica
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Informação Adicional
PDF primeiras páginas Clique aqui para visualizar Dimensão (cm) 21,2 x 13,6 x 2 Peso (g) 420 Ano de Publicação 2023 Número de Páginas 248 Encadernação e Acabamento Capa dura laminada ISBN 978-65-5461-027-8 Escritor(a) Francisco Umbral Tradutor(a) Sergio Molina Ensaísta(s) Bénédicte de Buron-Brun e Valeria de Marco Designer Danilo de Paulo (Mercúrio Studio) Ilustrador(a) Idioma Original Espanhol tradutor ensaio