Descrição
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Escritora, historiadora e filósofa, Ricarda Huch (1864-1947) marcou época na Alemanha, mas ainda é pouco conhecida fora de seu país natal. Foi uma das intelectuais mais destacadas de seu tempo, chamada por Thomas Mann de “a primeira mulher das letras alemãs, e provavelmente da Europa”. Huch desafiou as regras estabelecidas ao mudar-se para a Suíça com o intuito de frequentar a Universidade de Zurique, onde se doutorou, porque as universidades prussianas da época não aceitavam mulheres. Durante os anos do nazismo, fez parte do grupo de escritores que decidiu não se exilar e fazer oposição ao regime internamente. O último verão, um eletrizante romance epistolar agora publicado pela CARAMBAIA com tradução de Karina Jannini e posfácio de Juliana Brina, é sua obra de ficção mais conhecida.
Publicado em 1910, o livro foi criado em resposta a uma brincadeira em família, que desafiou Huch a escrever uma história de detetive. Ela encarou a aposta e criou um romance, em formato epistolar, que se passa na Rússia pré-revolucionária. Um tempo conturbado que contrasta com sua ambientação, uma casa de campo à qual a família do governador do Estado, Yegor Rasimkara, se recolhe em busca de tranquilidade e segurança. O governador tinha acabado de mandar fechar a Universidade de São Petersburgo para calar os protestos estudantis. Liu, um homem culto e observador, é chamado pela esposa de Yegor para protegê-lo em sua casa. No entanto, ele é secretamente um militante anarquista que planeja matá-lo.
Tudo isso é revelado logo no início. O romance se desenrola a partir daí em clima de tensão permanente, por meio de cartas trocadas entre Liu e um correligionário e entre os membros da família Rasimkara. Liu exerce sobre todos uma atração fora do comum, com “aqueles estranhos olhos cinzentos, que parecem penetrar em todos os corpos”, no dizer da matriarca. A família tem três filhos: Velia, um jovem piadista e despreocupado, e as irmãs Jessika e Katia, cheias de energia. Jessika se apaixona por Liu, e Katia fica enciumada, tornando-se a única voz crítica a Liu no núcleo familiar, o que não chega a abalar a situação confortável do forasteiro.
Huch explora os medos e a violência surda da época retratada, em particular nas cartas de fundo político de Liu para seu parceiro de conspiração. Há uma nova ordem em gestação, e todos os personagens, de um modo ou de outro, intuem uma revolução a caminho. Liu reconhece a austeridade e a seriedade intelectual de sua possível vítima, mas considera que um ato de violência é necessário para os objetivos de seu grupo. É perceptível no estilo da autora o fascínio pelo conflito iminente. “Nasci protestante, com uma tendência para revolução e rebeliões”, escreveu Huch em sua autobiografia. Uma prova do impacto histórico e literário de O último verão é que houve duas adaptações para o cinema, na Alemanha em 1954 e na Suécia em 1990.
SOBRE A EDIÇÃO
O projeto gráfico do livro foi concebido pelo Bloco Gráfico e teve como ponto de partida a máquina de escrever, elemento essencial da trama. A reprodução de suas peças na sobrecapa, impressa em papel vegetal, permite a sobreposição das partes dessa máquina, resultando em um emaranhado gráfico. As fotos dessas peças também aparecem em algumas páginas internas, como um quebra-cabeça que se monta aos poucos ao longo da leitura.
A tipografia dos títulos é a Gal Gothic (2022), de Daniel Sabino, cuja principal inspiração são os tipos sem serifa do começo do século XX, comuns em impressos da época em que se passa o romance epistolar. A tipografia de texto escolhida para as cartas, Lygia (2017), de Flávia Zimbardi, apresenta características caligráficas em seu desenho.
Autor(a)
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Ricarda Huch nasceu em uma família da alta burguesia em Braunschweig, na Alemanha central. Aos 22 anos, mudou-se para a Suíça, para estudar. Ainda cursava a Universidade de Zurique quando publicou uma peça de teatro e um volume de poemas, ambos com pseudônimo masculino. Em 1893, usando o próprio nome, alcançou sucesso com seu primeiro romance, Erinnerungen von Ludolf Ursleu dem Jüngeren (Memórias de Ludolf Ursleu, o jovem), a história do declínio de uma família. Dez anos antes, Huch havia passado por um arrebatamento amoroso semelhante ao da heroína do livro, quando se apaixonou por seu cunhado (e primo), Richard Huch, com quem viveu um romance clandestino. Em 1905, depois de um casamento e com uma filha, Huch retomou o relacionamento.
Huch escreveu poemas, contos, peças de teatro e obras teóricas de história e filosofia – entre elas dois livros sobre o Romantismo e estudos sobre a Guerra dos Trinta Anos, Martinho Lutero e Mikhail Bakunin, além de uma alentada história da Alemanha. Outro de seus romances mais conhecidos, Der Fall Deruga (O caso Deruga), saiu em 1917. Com a chegada de Adolf Hitler ao poder, a escritora tornou-se uma ativista contra o nazismo. Em 1933, quando Alfred Döblin, Franz Werfel, Jakob Wassermann e todos os outros escritores judeus foram expulsos da Academia de Artes da Prússia, Huch renunciou a seu assento com uma carta veemente ao presidente da agremiação, criticando o governo. No ano seguinte, em um de seus volumes sobre a história da Alemanha, destacou a perseguição aos judeus no país, em evidente crítica ao regime em vigor. A escritora recebeu a recomendação oficial de deixar o país e se recusou a cumpri-la.
Terminada a guerra e deposto o Terceiro Reich, ela foi eleita em 1947 presidente honorária do primeiro congresso de escritores de língua alemã, que reuniu em Berlim escritores das Alemanhas Oriental e Ocidental. Huch morreu em 1947, aos 83 anos, de consequências de uma pneumonia, deixando inacabado um livro sobre a resistência alemã ao nazismo.
Ficha Técnica
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Informação Adicional
PDF primeiras páginas N/A Dimensão (cm) 14,6 x 23,7 x 1,6 Peso (g) 318 Ano de Publicação 2023 Número de Páginas 144 Encadernação e Acabamento Capa dura laminada com sobrecapa em papel vegetal ISBN 978-65-5461-018-6 Escritor(a) Ricarda Huch Tradutor(a) Karina Jannini Ensaísta(s) Juliana Brina Designer Bloco Gráfico Ilustrador(a) Idioma Original Alemão tradutor ensaio
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