Descrição

“Meu papel foi contar a história do escravo. Para a história do senhor nunca faltaram narradores.” Assim Frederick Douglass (1818-1895) resume seu objetivo ao publicar, em 1893, esta que foi a versão definitiva de sua autobiografia. Neste volume, o homem que se tornaria o funcionário negro mais graduado do governo dos Estados Unidos e voz proeminente no movimento abolicionista narra toda a trajetória de sua vida, da infância como escravizado em uma plantation em Maryland, passando pela conquista da liberdade e por uma brilhante carreira pública como escritor, orador, intelectual, líder abolicionista e político. 

Entre as três autobiografias escritas pelo intelectual abolicionista, a filósofa Angela Davis escolheu esta, que é cronologicamente a última (publicada em 1893), como tema das Palestras sobre libertação que ministrou em 1969 na Universidade da Califórnia. Esta edição de A vida e a época de Frederick Douglass, até agora inédita no Brasil, vem acompanhada desses célebres (e também inéditos) textos de Angela Davis. O volume foi traduzido por Rogerio W. Galindo e conta com o posfácio de Luciana da Cruz Brito, historiadora e professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. 

Frederick Douglass, que conheceu a vida no cativeiro e a condição de liberto e semiliberto, foi – por suas atividades de orador, escritor e editor – um dos maiores líderes abolicionistas e figura importante nos bastidores da política dos Estados Unidos enquanto o sistema ainda estava em vigência e mesmo depois do fim da Guerra de Secessão. Várias passagens dessas suas memórias se tornaram clássicos literários, como a luta física contra um “domador de escravos”. Douglass também é famoso por ter sido o americano mais fotografado do século XIX, em imagens que tinham a intenção deliberada de se opor aos estereótipos afro-americanos da época.  

“Não haveria texto melhor para começar do que a autobiografia de Frederick Douglass” escreve Davis na Introdução. A partir dela, “os estudantes seguiriam uma trajetória do cativeiro à liberdade, o que os ajudaria a compreender melhor a natureza da liberdade nos termos em que ela foi forjada por aqueles que tinham mais a perder na luta pela libertação.” Na autobiografia, Douglass teve o propósito claro de contrapor-se à versão oficial da história. 

Diferentemente das anteriores, a versão final da autobiografia de Douglass é a única que inclui não apenas os detalhes de sua fuga do cativeiro como descreve o período da Guerra Civil (1861-1865) e o pós-abolição nos Estados Unidos, quando o autor registra a permanência do produto mais nefasto da escravidão: o preconceito racial, como analisa Cruz Brito no posfácio. A historiadora aponta como Douglass, corajosamente, denunciou o exército da União por perseguir ferozmente homens e mulheres negras do Sul que aproveitavam o momento para fugir da escravidão. Isso não o impediu de trabalhar como conselheiro do presidente Abraham Lincoln, tendo um papel crucial em convencê-lo a armar pessoas escravizadas e priorizar a abolição entre os objetivos do conflito. Durante a reconstrução, Douglass se tornou o funcionário negro mais graduado do governo Lincoln e, nos últimos anos de vida, assumiu postos diplomáticos, representando os EUA no exterior.  

Essa percepção das contradições daquele momento histórico torna evidente que Douglass foi muito mais do que uma testemunha dos horrores infligidos aos escravizados – o que já seria suficiente para tornar seus livros os clássicos inestimáveis que são. Ele também foi capaz de analisar profundamente o sistema escravocrata, numa perspectiva que vai além das percepções dos abolicionistas de seu tempo. 

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SOBRE A EDIÇÃO  

A capa do e-book tem projeto gráfico de Beatriz Costa e pretende representar alguns dos principais aspectos da vida e obra de Frederick Douglass. As referências visuais foram inspiradas no conceito do afrofuturismo, que aparece nos recortes, nas sobreposições e nas desconstruções tipográficas, bem como nas cores, características da cultura africana. 

Dez por cento da renda da vendadeste livro serão destinadas à ONG Educafro, que atua na promoção de bolsas de estudos para estudantes negros.

 

 

Autor(a)

Frederick Douglass (1818-1895) nasceu escravizado numa fazenda em Maryland, com o nome de Frederick Augustus Washington Bailey. Como era comum, foi separado ainda muito pequeno de sua mãe, passando aos cuidados da avó. O futuro escritor passou por mais de uma plantation, disputando comida e abrigo com outras crianças. Numa das passagens de suas memórias, a senhora da fazenda começou a alfabetizá-lo. Quando soube o que a esposa estava fazendo, o senhor da fazenda a proibiu de continuar, dizendo que, aos escravizados, “quando se dá a mão, querem o braço”. Douglass, no entanto continuou a se alfabetizar como autodidata.  

De fazenda em fazenda, às vezes sendo alugado para outros “proprietários”, Douglass experimentou uma série de crueldades, que culminaram com uma fuga seguida de prisão. Mais tarde, em Baltimore, começou a trabalhar em navios, transferindo parte de seu pagamento para um senhor de escravos. Douglass se envolveu com a comunidade negra da cidade, estreitando relações com Anna Murray, uma mulher negra nascida livre. 

A relativa liberdade terminou quando ele se recusou a continuar pagando parte de seus proventos e, fuga após fuga, sempre com a ajuda de Anna, chegou a Nova York, onde pôde, por brechas legais, livrar-se da condição de cativo. Em Nova York tomou contato com o abolicionista negro David Ruggles, que lhe garantiu proteção. Em pouco tempo casou-se com Anna, com quem teria cinco filhos.  

Por recomendação de Ruggles, Douglass mudou-se para New Bedford, Massachusetts, onde exerceu várias profissões, recebendo salário pela primeira vez como um homem livre. Por haver muita gente na cidade com o sobrenome Johnson, ele adotou Douglass. Em New Bedford, conheceu o movimento abolicionista e, aos 23 anos, iniciou sua carreira de orador, que o levou a viajar pelo país inteiro.  

Sua primeira autobiografia, com a qual inaugurou a carreira de escritor, foi publicada em 1845. A segunda, em 1855. Os livros provocaram grande repercussão, especialmente na Europa, mas levaram um de seus ex-senhores a decretar sua volta à escravidão. Douglass viajou para o Reino Unido, onde duas apoiadoras compraram sua liberdade.  

Douglass passou a advogar a ideia de que a Constituição americana era o melhor instrumento para a abolição, o que o levou a participar da política institucional, culminando com sua colaboração com Lincoln. Ao fim da Guerra Civil, o Ato de Emancipação libertou milhares de escravos. Douglass morreu em Cedar Hill aos 76 anos. Sua segunda mulher, Helen Pitts Douglass, criou o Memorial e Associação Histórica Frederick Douglass para preservar seu legado. 

Ficha Técnica

Informação Adicional

PDF primeiras páginas N/A
Dimensão (cm)
Peso (g)
Ano de Publicação 2022
Número de Páginas
Encadernação e Acabamento
ISBN 978-65-86398-59-5
Escritor(a) Frederick Douglass
Tradutor(a) Rogerio W. Galindo
Ensaísta(s) Angela Davis, Luciana Brito
Designer
Ilustrador(a)
Idioma Original Inglês
tradutor ensaio Rogerio W. Galindo

Saiu na Imprensa

"Autobiografias de Frederick Douglass e Assata Shakur compõem uma rica epistemologia negra."
Marcelo Ariel, Revista 451, 16/12/2022

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