Descrição
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“Tentem olhar. Tentem para ver como é.” Charlotte Delbo (1913-1985) diz isso a nós, leitores de outros lugares e outros tempos, ao descrever algumas das cenas terríveis presenciadas no campo de concentração de Auschwitz, num dos testemunhos mais impressionantes do Holocausto já publicados em livro. Auschwitz e depois chega em edição da CARAMBAIA, com tradução de Monica Stahel e posfácio de Márcio Seligmann-Silva, em sua primeira edição no Brasil.
A obra se distingue de outros relatos célebres sobre os campos de concentração por pelo menos dois motivos: ter sido escrito por uma mulher e a razão pela qual a autora foi presa, a atividade política – era militante comunista e membro da Resistência durante a ocupação da França pela Alemanha nazista. É uma leitura desafiadora, que quase recusa o status de documento histórico ao adotar uma narrativa do presente, entremeada de textos em versos e vinhetas sem título.
Auschwitz e depois reúne três livros escritos em tempos diferentes e em ordem diversa, mas que compõem uma unidade perfeita: Nenhum de nós voltará (concluído em 1947 mas publicado em 1965), Um conhecimento inútil (fragmentos de 1946 que vieram à luz em 1970) e Medida dos nossos dias (escrito em 1970 e publicado em 1971). O primeiro relata a passagem por Auschwitz. O segundo une Auschwitz e o campo de Ravensbrück e o terceiro narra o que aconteceu, um quarto de século depois, a onze mulheres (e um homem) que ela conheceu no cativeiro.
Delbo foi presa em março de 1942, aos 29 anos, com uma centena de membros da Resistência francesa, entre eles seu marido, Georges Dudach, que seria fuzilado após semanas de tortura em maio do mesmo ano. No mês anterior, em março de 1942, Delbo havia sido recolhida à prisão de Santé, em Paris. No mês seguinte, integrou o grupo de 230 mulheres oriundas de toda a França enviado a Auschwitz. Entre julho de 1943 e janeiro de 1944, esteve no campo agrícola de Raïsko e em janeiro de 1944, com mais sete mulheres, foi enviada a Ravensbrück. Após a libertação da França, Delbo integrou, em abril de 1945, o comboio para a Suécia organizado pela Cruz Vermelha do país. E depois, até a morte, viveu, como a maioria de suas companheiras, a impossibilidade de sair daqueles lugares.
Todos esses nomes e datas aparecem raramente ou nunca em Auschwitz e depois. O tempo e o espaço dos campos de concentração são soberanos e impositivos na vivência de Delbo e de muitas de suas companheiras. Ao chegar ao campo polonês, ela já intui que ali sua vida passada se rompeu: “Era um lugar de antes da geografia. Onde estávamos? Ficaríamos sabendo – mais tarde, pelo menos dois meses depois; nós, as que dois meses depois ainda estavam vivas – que o lugar se chamava Auschwitz. Não lhe poderíamos dar nome.”
É um período de distopia radical, tempo inapreensível e vazio mental – “Eu estava ausente demais para estar desesperada”. Estão presentes os sentimentos frequentemente abafados de um dia a dia de passos que se afundam na neve ou na lama, de carregar pedras, levar chibatadas de açoites e correias, sentir uma sede que endurece os lábios e a língua, ver mães esqueléticas com filhos pequenos que choram ou brincam de carrasco e prisioneiro – mas também, como um milagre, a montagem teatral de O doente imaginário, de Molière, numa noite de Natal, e, como um resquício de orgulho, a cena dos membros da Resistência que vão para a guilhotina cantando A marselhesa.
Como escreve Seligmann-Silva no posfácio da edição da CARAMBAIA, “esse magma traumático nunca pode ser inteiramente escrito e passa a marcar aquele que o atravessou”. Uma experiência que “desdiz o que o mundo simbólico significa em sua capacidade de nos estruturar tornando-nos aptos para a vida”. O campo de concentração desfaz em Charlotte Delbo o que julgava ter acumulado em suas quase três décadas de vida anterior, daí o título do segundo livro da trilogia, Um conhecimento inútil.
Autor(a)
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Charlotte Delbo nasceu Vigneux-sur-Seine, perto de Paris, de pais italianos. Aderiu às Juventudes Comunistas aos 19 anos e dois anos depois conheceu na militância seu futuro marido, Georges Dudach. Formada em estenodatilografia, tornou-se em 1937, aos 24 anos, secretária do célebre diretor de teatro Louis Jouvet, que a convidou para o cargo depois de ler um artigo que ela havia escrito sobre a arte teatral. Em 1941, contrariando pedidos de Jouvet, Delbo se uniu ao marido na Resistência, e passou a viver na clandestinidade. No ano seguinte, o casal foi preso.
Depois dos 27 meses passados em campos de concentração e do fim da Segunda Guerra Mundial, Delbo começou a trabalhar na Organização das Nações Unidas em Genebra. Morou durante doze anos na Suíça e, quando voltou a Paris, tornou-se assistente do filósofo Henri Lefebvre, autor de O direito à cidade, que havia conhecido em 1932. Morreu em 1985, em Paris, de câncer nos pulmões. Além da trilogia Auschwitz e depois, Delbo escreveu outros três livros, entre eles O comboio de 24 de janeiro (1965), uma biografia em ordem alfabética das 230 mulheres que partiram com ela para Auschwitz.
Ficha Técnica
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Informação Adicional
PDF primeiras páginas N/A Dimensão (cm) Peso (g) Ano de Publicação 2021 Número de Páginas Encadernação e Acabamento ISBN 978-65-86398-50-2 Escritor(a) Charlotte Delbo Tradutor(a) Monica Stahel Ensaísta(s) Márcio Seligmann-Silva Designer Ilustrador(a) Idioma Original Francês tradutor ensaio Saiu na Imprensa
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"O livro não se resolve de forma direta a partir da enumeração de fatos, datas ou acontecimentos, pelo contrário. Auschwitz e depois é um relato que exige a participação do leitor, de um investimento emocional por parte de quem atravessa suas páginas."
Kelvin Falcão Klein, Revista 451, 01/02/2022
"Relato sobre Auschwitz da francesa Charlotte Delbo ganha 1ª tradução no Brasil'
Redação, Jornal Rascunho, 22/11/2021Há livros cuja leitura se impõe quase como um compromisso ético e moral, algo da justiça para com a humanidade que tanto enaltecemos e defendemos. Não há dúvida de que Auschwitz e depois, de Charlotte Delbo, se inclui nessa categoria. Ainda mais que finalmente se preenche no mercado editorial brasileiro uma lacuna que durava décadas, e que a Carambaia soluciona.
Romar Beling, Gazeta do Sul, 19/12/2021
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