Descrição
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Centésimo título lançado pela Carambaia, Noite na taverna é indiscutivelmente a primeira obra literária de terror da literatura brasileira. Foi publicado em 1855, após a morte do autor, Álvares de Azevedo, com apenas 20 anos (1831-1852). São cinco histórias de atmosfera onírica, contadas pelos membros de um grupo de amigos que se deixam levar pelos vapores do vinho e do tabaco numa taverna, cenário atemporal e sem localização precisa.
Nesses contos interligados, a morte forma um duplo indissociável do amor. Essa dicotomia surge nas figuras de mulheres trágicas e diáfanas em cenários lúgubres, não raro com a presença de túmulos, caixões e punhais. A vida e a presença humana trazem consigo a marca da contingência e da fragilidade, como formulada por um dos personagens: “O que é o homem? é a escuma que ferve hoje na torrente e amanhã desmaia: alguma coisa de louco e movediço como a vaga, de fatal como o sepulcro!”.
Os nomes dos personagens sugerem um estrangeirismo propositalmente vago, como se a taverna estivesse num plano acima da realidade – a noite como eterno presente, no dizer da escritora e pesquisadora Ana Rüsche no posfácio da edição. O primeiro a contar sua história é Solfieri. A narrativa sombria é sobre uma mulher misteriosa e pálida que, ele vem a descobrir, sofre de catalepsia – algo entre o sono e a morte.
Por sua vez, Bertram fala de um duelo, uma virgem deflorada e uma estranha viagem de navio. Gennaro, um pintor, se envolve com a mulher e a filha de seu mestre, que prepara uma vingança. A história de Claudius Hermann se desenrola a partir do amor por uma duquesa e o subsequente assassinato de seu marido. Johann retoma o tema de outra história, o duelo – desta vez seguido de reviravoltas sobrenaturais.
As histórias são precedidas por uma discussão entre os amigos sobre filosofia, que termina por contrapor materialismo e idealismo, exaltando a superioridade do segundo a partir de citações a Johann G. Fichte e Friedrich W. S. von Schelling, e sobre o panteísmo de Baruch Spinoza. Ao fim dos cinco relatos, há mais uma cena de volta à taverna.
Mais do que a filosofia, porém, as inspirações dessa obra de Álvares de Azevedo são o romantismo gótico de Lord Byron e E.T.A. Hoffman e as passagens mais fantasmagóricas de William Shakespeare. O resultado é uma literatura tão arrebatadora que o crítico Antonio Candido afirmou que “não é possível apreciá-la moderadamente”.
Como muitos românticos, Álvares de Azevedo fez de seu motor o tédio (spleen) que sentia em São Paulo, onde morou – vindo do Rio de Janeiro – para estudar Direito. A morte interrompeu seus estudos. Apesar de queixar-se da modorra paulistana, o escritor deixou uma obra poética que revela uma intensa, muitas vezes atormentada, vida interior. Ou uma “verve demoníaca”, como define Ana Rüsche.
SOBRE A EDIÇÃO
A edição, que conta com posfácio da escritora Ana Rüsche, sai com apenas 1.000 exemplares, numerados a mão, encadernado em capa dura, serigrafada em tecido, com meia-casaca, corte ilustrado e fitilho.
O projeto gráfico é de Silvia Nastari e teve como ponto de partida o estilo gótico da narrativa de Álvares de Azevedo, que nos apresenta contos sombrios, tétricos e ao mesmo tempo alucinantes e vertiginosos. A matriz da capa foi produzida de forma manual, em tipografia, com a utilização de tipos móveis originais do século XIX. São letras ornamentadas, com terminações em orbitais, estabelecendo um paralelo gráfico com a cadência dos contos narrados pelos personagens masculinos em estado de embriaguez. Desenhada pelo berlinense Hermann Ihlenburg, no século XIX, a família tipográfica Houghton consta de um dos catálogos de tipos mais antigos encontrados no Brasil, o da Fundição de Typos Henrique Rosa. Essa fundidora atuou entre o final do século XIX e início do XX no Rio de Janeiro, mesmo período em que Álvares de Azevedo escreveu Noite na Taverna.
Os textos de destaque do livro – títulos, aberturas e capitulares – estão na fonte Edison Swirl SG, versão digital da tipografia Houghton. O texto principal foi composto com a família tipográfica Adobe Jenson Pro, de Robert Slimbach (1996), versão contemporânea dos tipos desenhados por Nicholas Jenson no século XV.
A arte da capa – composta com desenhos reproduzidos de manuais antigos –, o formato do livro e sua diagramação têm como referência as edições publicadas pelas private presses (gráficas particulares) da Inglaterra do século xix, em específico o trabalho gráfico feito por William Morris (1834-1896), que recuperou o estilo dos livros incunabulares e o uso de grandes capitulares nas aberturas dos textos.
Autor(a)
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Manoel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852), chamado em família de Maneco, nasceu em São Paulo, mas cresceu no Rio de Janeiro. De volta a São Paulo para estudar Direito, ficou conhecido entre seus pares na Faculdade do Largo São Francisco pelos poemas que corriam de mão em mão – suas obras só foram publicadas em livro depois de sua morte. Durante o curso, traduziu Shakespeare e Lord Byron e fundou a revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano.
Por essa época o poeta foi acometido de uma tuberculose pulmonar, agravada por um tumor provocado pela queda de um cavalo. A causa de sua morte, contudo, é objeto de controvérsia. Além de Noite na taverna, o escritor deixou para a posteridade, entre outros, livros de poemas – destacando-se o volume Lira dos vinte anos –, fragmentos do romance O livro de Fra Gondicário, o drama Macário e diversos ensaios, além de cartas. Num artigo sobre Lira dos vinte anos, Machado de Assis escreveu: “Álvares de Azevedo era realmente um grande talento; só lhe faltou o tempo, como disse um dos seus necrólogos”.
Ficha Técnica
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Informação Adicional
PDF primeiras páginas Clique aqui para visualizar Dimensão (cm) 18 x 12 x 1,8 Peso (g) 380 Ano de Publicação 2023 Número de Páginas 168 Encadernação e Acabamento Capa dura com meia-casaca em papel especial e tecido, serigrafia, baixo-relevo, corte ilustrado e fitilho ISBN 978-65-5461-048-3 Escritor(a) Álvares de Azevedo Tradutor(a) Ensaísta(s) Ana Rüsche Designer Silvia Nastari Ilustrador(a) Idioma Original Português tradutor ensaio